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Tuesday, December 22, 2009

O que devemos à Pitágoras?


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Pitágoras de Samos, o primeiro filósofo
"The point of philosophy is to start with something so simple as not to seem worth stating, and to end with something so paradoxical that no one will believe it." (O ponto da Filosofia consiste em começar com algo tão simples, que não seja digno de menção, e terminar com algo tão paradoxo que ninguém irá acreditar...)-Bertrand Russel

Há dias reflectia sobre a origem da palavra filosofia, e deparei-me com uma lembrança quase esquecida do momento em que surgiu a palavra F,I,L,O,S,O,F,I,A mas ainda me era equívoco repensar sobre ela não etimologicamente mas o momento histórico ao qual esta palavra se encontra eternamente ligada.O nome Pitágoras tornou-se familiar a muitas gerações de crianças europeias em idade escolar porque lhe foi atribuída a primeira demonstração de que o quadrado da hipotenusa de um triângulo rectângulo é igual em área à soma dos quadrados dos outros dois lados. Mas Pitágoras fundou também uma comunidade religiosa comum conjunto de regras ascéticas e cerimoniais, a mais bem conhecida das quais era a proibição de comer feijões. Pitágoras ensinou a doutrina da transmigração das almas: os seres humanos teriam almas independentes dos seus corpos e, aquando da morte, a alma de uma pessoa poderia migrar para outro tipo de animal. Por esta razão, ensinava os seus discípulos a absterem-se de carne; diz-se que, uma vez, terá impedido um homem de açoitar um cachorro por ter reconhecido nos seus ganidos a voz de um amigo querido já falecido. Pitágoras acreditava que a alma, tendo migrado sucessivamente para diferentes tipos de animais, podia ac abar por reencarnar num ser humano. Ele próprio afirmava lembrar-se de ter sido, alguns séculos antes, um herói no cerco de Tróia.Um desses dias, Pitágoras ao tomar o seu copo de água habitual conversava com os seus discípulos como é que o número deu origem ao universo e como é que os seres humanos migravam as suas almas em outros seres e outras vidas. depois de algum tempo, com a mão no queixo, Pitágoras calou-se e pôs-se a rir (gargalhadas bem altas), um dos díscipulos interrogado com a atitude do seu mestre levantou-se perplexo e perguntou: "Mestre de que te ris?", Pitágoras calmamente fechou o seu sorriso e disse-lhe: "Meu caro cleofonte, eu não me ria, apenas expressava o número, bastava contares quantas gargalhadas dei e quantos sorrisos demostrei que encontrarieis o número!!! ". O jovem discípulos calou-se perante a manifestação de tamanha sabedoria por parte do mestre que não hesitou e disse: "Mestre, o senhor é um sábio!!!"...Pitágoras, um tanto símplice como sempre calou e respondeu: "Agradeço pelo elogio, mas para sua informação eu não sábio!!". Todos os díscipulos indagaram-se e aproximaram-se do mestre: "Mestre o senhor não é sábio? Então o que é? Donde provém tamanho conhecimento?". Pitágoras disse-lhes: "Eu sou apenas um philosophos(filósofo)".
O que Pitágoras queria dizer? Será que não fazia sentido para ele aceitar de uma vez que possuia uma inteligência fora de comum, e que o seu pensar assemelhava-se aos dizeres dos deuses do Olimpo?!!! Era humildade ou apenas uma maneira de relegar o estatuto de sábio apenas aqueles que têm contacto com o divino? O que Pitágoras fez?
Ele inventou e cunhou um termo que durante séculos separaria mito e conhecimento, verdade e mentira, religião e ciência, senso-comum e ciência, boato e realidade. Pitágoras dividiu o saber entre os que o possuem e os que o buscam (philosophia). Muitos puderam ser classificados como filósofos, não porque sabiam o que eram, mas pelo simples facto de Pitágoras ter introduzido um termo que poderia classificá-los!!!! Na grécia existiam sábios, mágicos, videntes, políticos, escravos, matemáticos, físicos e mestres religiosos mas não existiam filósofos...nem filosofia (?!!) até que um jovem mestre respondendo à um humilde elogio decifrou e catalogou uma nova tribo de homens, de mulheres, de cidadãos e de pessoas.
Então devemos ou não devemos muito á Pitágoras?

Nova Faculdade de Filosofia abre em Moçambique

In Maputo, Terça-Feira, 22 de Dezembro de 2009:: Jornal Notícias


A PROJECTADA Faculdade de Filosofia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) entra em funcionamento em Fevereiro próximo, segundo garantias dadas pelo respectivo Reitor, Filipe Couto.

Um memorando de entendimento com vista à concretização deste plano foi ontem rubricado por Filipe Couto e pelo Bispo da Diocese dos Libombos, Dom Dinis Sengulane. Assim, a Diocese dos Libombos passa a acolher a Faculdade de Filosofia nas suas instalações, no recinto da Escola Anglicana São Cipriano.

Falando no acto da assinatura que formaliza esta vontade, o Reitor da UEM disse que já era necessária a criação daquela faculdade numa altura em que o país precisa de jovens munidos de ferramentas suficientemente sólidas para, segundo disse, catalogar a realidade.

“Estando no ano Eduardo Mondlane, há necessidade de fazer com que os jovens comecem a pensar em factos. Por exemplo, fala-se da corrupção, transparência, pobreza, riqueza mas é preciso conhecer a realidade, e saber, acima de tudo, no que as pessoas acreditam”, disse.

A parceria entre a Universidade Eduardo Mondlane e instituições religiosas não é nova. Num passado não distante, um acordo similar foi assinado com a Comunidade Maometana, que cedeu espaço num estabelecimento de ensino, onde funciona a Escola de Comunicação e Artes.

Para Dom Dinis Sengulane, Bispo dos Libombos, o acto ora testemunhado é a concretização de um desejo antigo de, formalmente, a igreja que representa dar o seu contributo no ensino superior em Moçambique, promovendo a dignidade humana através do alargamento do conhecimento.

“Sendo este o ano Eduardo Mondlane, a Igreja Anglicana introduz neste mesmo ano, em seu património, o nome Eduardo Mondlane, dando assim o seu contributo de honrar o arquitecto da unidade nacional, numa instituição de relevo na vida anglicana, ainda que humilde. O nome Mondlane não nos é alheio, anglicanamente falando”, disse Sengulane.

A Universidade Eduardo Mondlane já realizou inscrições para os exames de admissão referentes ao ano académico de 2010 sem, no entanto, contemplar a nova Faculdade. Sobre o procedimento a dar, Couto disse que será aberta uma excepção no sentido de se realizarem exames de admissão para o curso de Filosofia e posterior arranque do curso que, numa primeira fase, não terá mais do que cem estudantes.

Esta e a primeira vez na história da Universidade Eduardo Mondlane que se tem Filosofia como curso. Segundo o reitor, existe capacidade de resposta em termos de docentes para darem início às aulas.

Monday, December 14, 2009

Convite para Filosofia

A Filosofia foi vista desde a Antiguidade (séc.III a.C.) como um instrumento para a convivência social entre os homens, e como uma arma indispensável para a compreensão do mundo. Infelizmente, hoje em dia, a Filosofia tem sido vista como mais uma ciência inválida e desnecessária para a sociedade em via de desenvolvimento, baseada na técnica, no consumo, na pobreza e no Capitalismo desenfreado. E outros aind argumentam que o países como Moçambique não precisam de Filosofia, e muito menos de Filósofos, porque ao invés de diminuirem a pobreza a Filosofia aumenta os problemas (cria problemas desnecessários). E quanto mais o tempo passa a Filosofia vai sendo considerada como uma ciência arcaica e meramente auxiliar, dependente da misericórdia das outras ciências e da boa vontade das políticas educacionais, o que faz com que o papel da Filosofia seja a do museu de onde o pensamento especulativo surgiu.
O pensar foi reduzido a condição secundária do capitalizar, a um mero elo entre a produção e o consumo. As sociedades em vias de Desenvolvimento querem dinheiro e não raciocínio. Os homens buscam o momentâneo e o não valoroso, as escolas formam máquinas e não homens, na política mais vale a mentira que a verdade...e é assim que o mundo vai, mas para onde irá a Filosofia? Vamos Deixá-la a mercê do destino e da economização da ciência? Vamos deixá-la envelhecer em prateleiras de escolas universidades ou vamos apresentá-la ao mundo?

A Filosofia é necessária e importante, mas para permitir a sua integração na sociedade devemos pensar em estratégias úteis de integração na sociedade (polis) como faziam os atenienses, os romanos e os alemães. Temos de envidar esforços contínuos para preservação e inovação da problemática filosófica em Moçambique. É tempo de Pensar e Dialogar de uma maneira mais aberta, quebrar a dicotomia Instituições de Ensino e Universidades, e propor a melhor maneira de promover o pensamento e raciocínio filosóficos!!!

O Centro de Filosofia Aberta em Moçambique (CFAM), é uma iniciativa moçambicana que pretende reaver o espaço perdido da Filosofia na sociedade através de vários meios: Palestras, conversas, convívios, grupos de leituras e massificação em rede dos problemas da Filosofia na sociedade. É importante refrisar e valorizar o pensamento crítico-reflexivo mas também interventivo da Filosofia na sociedade. Porque um povo sem entendimento, indubitavelmente perece. E é o nosso desejo, aumentar o entendimento em relação a Democracia, Justiça sócio-económico, direitos humanos, trabalho, educação e artes através da Filosofia.

Por isso, convido-vos para juntos fazermos parte desta iniciativa e invidarmos esforços para uma nova compreensão e insersão da Filosofia na nossa Nação. Façamos esforços para começarmos o mais rápido com acções de respostas a esta fragilidade. Comecemos a dialogar com todas as esferas sociais e todas as áreas de saber para promovermos uma nação consciente e racional.

Vamos todos juntos unir-nos por uma Flosofia Aberta, porque tudo depende de mim e de ti

UMUNTU NGUMUNTU NGABANTU
Uma pessoa é uma pessoa por causa de outras pessoas.
(Eu sou porque você é, e você é porque nós somos).
Ditado Zulu
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Wednesday, October 14, 2009

Os vocabulários e a percepção!!!

Certo dia, ao chegar a casa, o Sr. Adalberto (Jurista) ouviu um barulho estranho vindo do fundo do seu quintal. Foi ao local, onde constatou haver um larapio que tentava levar seus patos de
criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo, que tentava pular o muro com os seus amados patos, e gritou-lhe

-Ohhh bicéfalo anacroto não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo acto vil e sorrateiro acto de profanares o recôndito de minha habitação e levares os meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo, mas se é para zombardes de minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com o meu cajado fosfórico bem no alto da sua sinagoga e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potencia do que o vulgo denomina por nada.
> E o ladrão, tudo confuso, equivocado e ofegante, pergunta:·>

-Dr., é para levar ou deixar os patos?

Monday, August 17, 2009

Sobre matrecos: possibilidades e impossibilidades de uma identidade

Sobre matrecos: possibilidades e impossibilidades de uma identidade

  • Uma pretenciosa reflexão “filosófica” sobre a obra Falas Impossíveis de Amarildo Valeriano


Gerson Geraldo Machevo

Para Sánia Mariza Matusse


A poesia é sempre vista como bebida de resmungões e desiludidos durante anos, (desculpem-me os poetas por esta afirmação), sempre os poetas falam de coisas que não percebemos, movem-se entre metáforas e hipérboles em todas as direcções. Por essas razões entre pensadores tão originais como Platão ouviu-se dizer mal da poesia, pois ela aliena o homem, aliena a existência e inventa mundos utópicos. Mas no meio de tanta bebedeira e tropeços alguns poetas conseguiram expressar a alma do seu povo e até algumas vezes a sua própria alma, razão pela qual algumas pessoas preferem sempre aos poetas que aos filósofos.

Poesia é loucura e filosofia é sabedoria, assim definiram alguns iluministas, a emoção pertencia aos seres minorizados enquanto que a razão pertencia a seres iluminados. Esta oposição constante entre pensamentos e emoções, entre consciência e demência, e entre a imaginação e o concreto fez com que o Ludwig WIttgenstein declarasse que “do que se não falar, é melhor calar-se”, ou por outra, sobre o que é impossível dizer-se o possível é não dizer nada!

Já antes disse que o Sr. Valeriano empenhou-se na busca de uma ambição pouco filosófica e pouco racional, porque como falaria ele do impossível, o que ele poderia nos dizer com essas falas impossíveis (mas possíveis ao seu ver). A sua obra por mais que pareça mais um daqueles goles de ilusão, ainda aparenta algumas semelhanças com a realidade. Ora se de contrário pelo menos o seu anseio em expressar a realidade com falas poéticas, procura apresentar-nos algumas verdades.

Depois de algum tempo de reflexão apercebi-me de algo que George Berkeley disse a três séculos atrás, “só existimos quando somos percebidos”, e não apenas quando pensamos (como defendia Descartes) ou sofremos a angústia (Sartre). As falas impossíveis de Amarildo Valeriano são uma tentativa de afirmação uma possível identidade e uma cosmovisão pertencentes à um sujeito em busca de uma auto-compreensão. Como ele afirma no poema Descorte:

Eis a diferença

Como se o ser

Mais é

O que foi,

A poesia de Amarildo Valeriano é essa confiança de uma afirmação identitária de um ser cosmopolita, de um ser solitário, globalizado e localizado numa realidade onde os seus ideais repousam em ideias sobre um mundo impossível/possível. Como ele chega a afirmar no poema Liberdade em tom maior “choramos quando nascemos mas ninguém ousa perguntar porque viemos!”. A identidade possível na poesia de Amarildo é uma fala impossível, indizível e impronunciável, mas imaginável.

O jogo desenhado entre o passado, o presente e o futuro nas falas valerianas fazem-me repensar na ideia escondida por trás das palavras do valeriano, o homem contemporâneo é uma identidade matreca, pois, “está na moda ser matreco”. A crítica que ele desenha a sociedade actual representa para além da busca de uma identidade individual o sentimento de uma colectividade de seres sem vozes, sem falas, mas que sentem-se desorientados num mundo quase comum num universo incomum. Há um sentimento de revolta e de construção identitária que carece de alguma profundidade (navegação que me proponho a fazer futuramente, porque é um empreedimento filosófico).

Por fim, podemos dizer uma racionalidade oculta nas frases bêbadas/emocionais do poeta Valeriano, uma racionalidade emocional que nos convida a uma procura interna de nós mesmos. Existem sentenças projectivas que se relacionam com o quotidiano de todos nós. A vontade de um poder ilimitado de acabar com a injustiça. Como ele afirma:

Mas eu gosto de certos poetas

Que sem compromissos nem complexos

Não temem em dizer a verdade

Tal como ela é;


Licenciado em Ensino de Filosofia

Filosofia sem Filósofos

Uma Filosofia sem filósofos

  • Ensaio sobre o papel da Filosofia em Moçambique

Gerson Geraldo Machevo[1]

Após a leitura da obra Os Tempos da Filosofia de Severino Ngoenha apercebi-me que, a tradição filosófica ocidental permitiu que cada época fosse marcada distintamente pelo seu modo de interpretar a realidade e conceber o mundo. Ao contrário em África, foram as formas de lutar para conceber uma melhor sociedade que determinaram a caracterização das mesmas. Por isso, é mais fácil para uma criança entender o significado do poder da violência, ao invés de perceber a importância e o valor do silêncio. Pois, o acontecimento e não o motivo é que está por detrás da sua percepção da realidade. O acontecimento está para o moçambicano como o pensamento está para os ocidentais. Pelo simples facto de a realidade para nós ser determinada pelo pensamento e ideias de outros, partindo de uma maquete preconcebida para posterioremente determinarmos o modo de vida da nossa sociedade. Por outro lado, quando houve uma aproximação ao modo ocidental, o despertar do pensamento bloqueiou a veia de acção.

A tradição literária moçambicana pelo seu centralismo no passado, no tradicional e não na utopia reduziu a importância do pensamento e dos pensadores por se considerar que talvez fosse melhor usar parábolas e outras formas de ocultar verdades para explicar a sociedade. Perpetuou-se assim a ideia segundo a qual, “o povo” percebe melhor o mundo ao seu por meio de anedotas, músicas e não por meio de textos argumentativos (talvez seja por isso que não tenhamos uma cultura de ensaios). O pensamento tornou-se uma mera palavra, usada para explicar algo essencial existente no consciente do homem que o permite ter acesso a ideias e perpetuar o modo de luta e explicar os seus anseios. O pensamento não é uma arma, e muito menos uma força. O pensamento equivale a meras palavras fanatasiosas para expressar ansiedades. É uma arma para a burla.

Neste sentido, a emergência de um pensamento filosófico na sociedade moçambicana suscita diversas questões e entre as quais a mais importante: Qual é a necessidade da Filosofia na sociedade moçambicana? Esta questão poderá ser respondida de várias formas contudo na maior parte das vezes a resposta mais óbvia é que a sociedade moçambicana, não necessita de Filosofia.

Ora, essa posição anti-filosofia é válida no sentido do percurso intelectual da nação ter sido caracterizado por posições opostas quanto ao significado do que seria “filosofia”: 1) filosofia era padres e aqueles que estudavam em seminários; 2) filosofia significava a ideologia marxista; 3) filosofia seriam apenas princípios da vida em geral; 4) filosofia era para loucos (posição popular); contrariamente a essas quatro posições por volta dos anos 1990 no alvorecer da democracia em moçambique, a filosofia foi introduzida nas escolas com intuito de ser um instrumento argumentativo passível de introduzir o cidadão na sociedade e fazer as suas escolhas com base em argumentos lógicos (enquanto por outro lado preparava o aluno para o ensino superior).

Todas as posições são válidas á sua maneira, cada uma depende do contexto em que estiver enquadrada, por mais que a filosofia seja para loucos. Um filosófo alemão (Friedrich Nietzsche) disse que a filosofia numa sociedade ou cura as pessoas ou torna-as mais doentes.

Na minha opinião é o conceito de pensamento que as pessoas têm que determina a forma como elas entendem Filosofia. Se o pensamento for algo complexo, só serve para enlouquecer. E se o pensamento for simples de mais, é inútil. Portanto, a filosofia de nada servirá porque os pensamentos não se tocam.

Por isso, da inutilidade da filosofia poucas são as pessoas que aderem a ela com o intuito de usar as ferramentas numa perspectiva puramente académica. Muitos dos que aderem aos cursos de filosofia aderem por uma questão meramente económica e prestigiosa, no sentido de possuirem um grau universitário e um estatuto social. E muitos deles depois esquecem do valor da própria filosofia.

Por outro lado, temos um outro grupo de filósofos na nossa sociedade, para os quais sendo a filosofia um mero instrumento filosófico, levará muito tempo para que ela possa ser entendida na sociedade. Devendo a filosofia ser confinada nas universidades e de vez em quando sair para debates, colóquios e simpósios. A filosofia é igualada a coruja de minerva, que levanta-se ao anoitecer (como defendem Hegel e Ngoenha).

Mas se a filosofia vem tarde, ninguém necessita dela. Quem irá necessitar de um médico depois de ter morrido. Que sociedade precisa de uma ciência silenciosa? A filosofia parece estar a separar-se dos reais problemas da sociedade, e o filósofo parece tornar-se um covarde amedrontado não-sei-de quê.

Da contemplação filosófica para acção-interacção social

A covardia filosófica reside no facto de muitos filósofos defenderem que o papel do filósofo ser o de reflectir sobre o mundo. O filósofo é por natureza um pensador, por essa razão não irá demonstrar nenhuma acção visível como a do pedreiro, a do arquicteto, a de um médico, etc. Realmente não, mas como Marx disse, não é tempo de contemplar/reflectir sobre o mundo, o mais importante é transformar a sociedade.

Acredito que o foco na filosofia tem desnorteado a verdadeira função desta na sociedade moçambicana. Pois, as pessoas aprendem a pensar mas não aprendem a agir, não se empreendem para “transformar”. Pois todos os seus ídolos, o Platão, Aristóteles, Hegel e Voltaire, não os ensinaram a agir, mas a sonhar. E o seu sonho não pode ser partilhado antes do anoitecer. O ideal seria estar assentado sobre uma pedra com a mão sob o queixo, como a estátua “o pensador” de Auguste Rodin.

A filosofia em Moçambique parece reflectir sobre uma sociedade ilusória, um mundo de pensamentos que nenhum cidadão real tem acesso. Pois os problemas reais e imediatos não são reflectidos, ao menos. Porque parece ser uma espécie de pecado reflectir sobre o “agora”, por ser mais cômodo relectir sobre o “ontem”.

Acredito ser necessário deixar-se de esconder por detrás da coruja e enfrentar o mundo de hoje. Imaginemos então se essa coruja moçambicana de tão jovem que é perder a visão? Qual será o seu fim? Será que morrerá á fome e cega, apesar de ainda poder voar?

A real presença da filosofia na sociedade moçambicana carece de uma mudança de perspectiva em relação aqueles que a fazem. Pois a filosofia não pode existir sem filósofos. Acredito que este é que tem sido o grande problema, a centralização sobre a Filosofia e não aqueles que fazem sentir a sua presença. Ainda não entendemos que a sociedade necessita de uma melhor percepção sobre qual é a responsabilidade do filósofo na sociedade.

Da covardia á ousadia filosófica

Enquanto o filósofo manter-se calado ele estará a ignorar os problemas do seu país, e estes esforços fúteis para filosofar seu caminho em direcção à relevância política são um sintoma do que acontece quando retira-se do ativismo e adota uma abordagem espectatorial dos problemas do seu país, como defendeu o filósofo americano Richard Rorty, em Para Realizar a América (1999,130). Pois a posição de um espectador a espera de um golo favorável para a sua equipa, em nada permite ao filósofo a influenciar a sua sociedade. Acredito com isso, deixarmos de centralizar o debate na filosofia, mas responsabilizar o filosófo sobre o papel de restaurar o papel da Filosofia na sociedade ou denegri-la mais.

O pensador americano considerava que a centralização do filósofo na “teoria” afasta-o da realidade, dos “reais problemas dos homens”. A grande acção filosófia seria uma focalização da actividade filisófica (seja metafísica, antropologia, política, etc.) deixe de focalizar os problemas dos livros e enfatizar os problemas da sociedade. O orgulho filosófico não deve impedir a verificar os problemas sociais, senão de outra forma vai-se plantar um árvore no meio no mar. O problema é o de se pensar que o “povo” sabe o que irá fazer e que os costumes permanecerão os mesmos. Mas o problema reside no facto de ensinar o “povo” a saber fazer as suas escolhas.

Quando Sócrates, Russel, Rousseau ou Chomsky denunciaram as suas sociedades ou quando Ngoenha tenta denunciar , não cruzaram os braços a espera das consequências das escolhas do seu povo, mas tentaram ajudar o “povo”a compreender melhor como é que poderiam aprender a melhorar a sua sociedade. Eles pretendiam trazer mudanças significativas ao estado da sua sociedade, não meramente através do pensamento mas por meio de acção.

A sociedade moçambicana não precisa de Filosofia. Entendam Filosofia enquanto um corpo teórico de conhecimentos confinados á universidade. Ou seja, o pensamento confinado a mera contemplação e auto-satisfação, aquele aspecto complexo do saber que apenas pocuos tem acesso. Como também, aquele enigma de conhecimentos que somente os “escolhidos” têm acesso. É necessário responsabilizar o filósofo como o agente de mudança. Senão, no vão do pensamento o filósofo irá esquecer-se da questão pertinente feita por Kant: “O que posso fazer?” E não apenas “o que é posso saber?”.

Essa mudança da posição centrada na filosofia para a posição centrada no filósofo permite abandonar-se o argumento segundo o qual a Filosofia é desncessária para a sociedade. Pois, se culpamos a Filosofia é o mesmo que se acusássemos um fantasma. Mas se culpamos o filósofo, seja ele Ronguane, Ngoenha, Castiano, Muianga ou Gingir apontamos o dedo para um sujeito pensamente capaz de responder pelos seus actos. E é responsabilidade deste mesmo sujeito responder as inquietações da sua sociedade. É importante que o filósofo deixe de pensar mas comece a agir na arena social (por mais que seja por meio de pensamentos).

Ora, a minha opinião é a mesma que a do filósofo beninense Paulin Hontoundji, segundo a qual a escrita é meio mais importantíssimo para a identificação do filósofo. Se não for pela escrita que seja por meio de uma acção visível para sociedade. Que não esteja confinada á uma plateia privada específica mas que a participação seja feita de uma forma mais pública. Na qual as palestras possam incluir a sociedade civil, e as ideias do filósofo partilhadas com todos.

Por outro lado, é importante ressaltar a importância da utopia porque é isso que faz com que o filósofo possa contribuir de uma forma significativa para a sua sociedade. Se o filósofo não sonha o seu mundo fica inacessível, intocável e impossível porque ninguém irá saber o que é que ele faz. Mas se ele partilhar formas viáveis de melhorar a sua sociedade ou uma das esferas, poderemos compreender o valor da sua tarefa na sociedade actual.

A ousadia filósofica reside na possibilidade do filósofo expressar a sua liberdade, por mais que a sociedade não permita, ele terá de inventar novas maneiras de expressar o seu pensamento contra a violência, a hipocrisia e a desumanidade. É importante perceber-se que o filósofo sem ousadia é como um saco vazio. E é necessário que se perceba que a tarefa de restaurar a imagem negativizada da Filosofia está ao seu encargo.

Em resumo, a sociedade necessita de filósofos ou interessados em Filosofia que abandonem o espírito de auto-contemplação e o espectatorismo distanciado para virarem-se para o campo de maior intervenção na sociedade. A violência do mundo requer uma outra visão, um outro agir, uma contribuição que só filósofo pode fazer e não a Filosofia.


[1] Licenciado em Ensino de Filosofia