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Sunday, November 20, 2011

Entrevista com José Castiano: Entre outras coisas há muita coisa ainda para a Filosofia reflectir...

“Por que precisamos de filosofia?” – depois de ler José P. Castiano, por várias vezes, repetiu-se em nós esta questão nas horas que antecederam à entrevista. Mais do que resposta a esta questão, nos diria Castiano, um país – ou continente – que aprendeu a substituir Deus pelo Ocidente e que passou a vestir-se de FMI precisa de respostas.
“O Ocidente é, para Moçambique e para África, uma espécie de Deus. Os africanos substituíram Deus pelo Ocidente (...). Em tudo o que aprendemos a fazer, como desenvolvimento, fazemo-lo à imagem e semelhança do ocidente como horizonte, como justificação, como legitimação” – escreve Castiano em “Pensamento Engajado”, que assina com Severino Ngoenha.
Para além da invenção de um novo Deus, África vestiu a camisola de democracia, assumindo todas as suas regras. Mas, para Cristiano, corremos o risco de ter uma democracia sem democratas.
Comecemos pela pergunta que faz no “Referenciais da Filosofia Africana”. Por que estudar filosofia em pleno século XXI? Qual é a importância da filosofia num mundo com televisão? Por que parar para ouvir a palavra?
O mundo de hoje é mais da imagem do que da palavra, é mais de ócio que do pensamento. Portanto, neste contexto, estudar filosofia torna-se importante. Mas há três razões básicas para isso. a primeira é que o sentido original da filosofia é admiração, a filosofia começa com admiração, com espanto e com interrogação. Esta é a coisa mais infantil da filosofia. Então, nós todos, como seres humanos, estamos sempre a perguntar sobre o sentido das coisas, seja do nosso próprio ser, da nossa família, dos nossos amigos. A segunda, que eu penso que é mais séria, é que a filosofia é um pensamento crítico no sentido não de avaliar negativamente todos os processos que ela assiste, mas no sentido  de apresentar alternativas à realidade, alternativas de explicação da realidade. Se quiser aplicar termos filosóficos, vou dizer “pensamento crítico é aquele que não vê a realidade como uma fatalidade”, portanto, que tudo pode ser feito de outra forma. Portanto, o nosso sistema de educação e o nosso sistema político podemos olhá-lo como uma forma evolutiva. A terceira (razão), e essa é mais específica para Moçambique,  o olhar filosófico ajuda a equacionar aquilo que é do mais íntimo para o país, que é a identidade moçambicana. A contextualização de moçambique no mundo hoje como país deve ser uma das grandes mensagens do pensamento engajado. Estas podem ser as razões básicas sobre o por que do estudar filosofia. A filosofia não é só repetir pensamentos clássicos, é também na  base deles equacionar a realidade actual.
Um dos dilemas que levanta nos seus livros, que parece também o dilema da própria filosofia e das outras ciências sociais, é o conflito entre o “eurocentrismo” e o “afrocentrismo”. Por que continuamos, ainda hoje, a discutir essas correntes em termos extremos?
Vamos começar do início. As instituições de educação actuais foram introduzidas pela Europa e nós, depois das independências, não conseguimos, ainda, desestruturar essa forma como a Europa introduziu a educação. O que acontece é que a filosofia, no seu íntimo, tem um pensamento libertário. Portanto, estar ao lado da liberdade, contextualizando hoje, significa que a filosofia tem que também se libertar do pensamento eurocentrista, que colocava a filosofia africana numa esquina periférica em relação à própria história e em relação ao seu próprio ser. Mas, por outro lado, encontramos aquilo que chamamos a tentação unanimista, que não seria mais que esta forma europeia introduzida pela antropologia colonial de olhar a África como unânime, a África como  um continente  espiritual, como um continente onde todos são selvagens, uma África tradicional. Parecendo que não, esse pensamento condicionou a forma de nos vermos, de nos olharmos a nós próprios. Então, hoje encontramos uma maioria de intelectuais que também sofrem essa tentação unanimista da forma como olham para os povos africanos quando querem estudar África. Nos meus livros, particularmente “Referenciais da Filosofia Africana”, tento mostrar qual é o caminho que a própria filosofia no seu interior pode seguir para se libertar antes de pregar a liberdade.
O afrocentrismo tem sempre a tendência de recusar a contribuição europeia para a construção história de África. Não será um “egoísmo” desta fazer essa recusa?
No livro “Referenciais da Filosofia Africana” falo de Assante, que é o pai do afrocentrismo actual, em que o mérito, independentemente de juízos de valores que podemos fazer, é de ter iniciado um discurso de desconstrução da forma como a ciência europeia é feita.  Vou dar um exemplo, eu nasci à beira do rio Zambeze, que tem crocodilos. Íamos tomar banho no gombe, (...)e convivíamo com crocodilos. Como lagarto, crocodilo é um animal territorial. Então, é frequente ouvir queixas como “este crocodilo pertence a esta família e foi matar na outra”. Quando se vai queixar no tribunal diz-se que “a família tal matou-me por causa do crocodilo”. Estas crenças já não tem forma de serem compreendidas num contexto científico ocidental. O que Assante fez foi dizer que não só existe essa forma de dois cursos científicos que se baseiam na prova, na verificação, na experimentação, mas também no contexto afrocentrico existem outras formas de pensamento que podem ser consideradas também de científicas. De facto, o afrocentrismo é uma corrente extremista. No fim do livro, quando falo de intersubjectivação, faço uma crítica a essa forma de ver afrocentrista, não podemos tomar  essa como uma posição acabada, mas ela pertence à história do pensamento dos africanos na diáspora e merece o seu espaço na academia africana. Ao ler a minha introdução pode reparar (que)  a academia moçambicana, em quase todas as disciplinas, não introduz conteúdos escritos por africanos. Os escritos africanos e moçambicanos em particular são, totalmente, ignorados.
Como é que podemos apostar na filosofia africana se continuamos a ir buscar constantemente as referências ocidentais?
Há duas maneiras de fazer isso. A primeira coisa é que temos professores mas não temos académicos. Temos universidades mas não temos academias. Um académico é alguém que usando a capacidade de conhecer a área científica usa o seu pensamento para analisar, fazer propostas de significação, propostas de interpretação de fenómenos políticos sociais e culturais no seu contexto. Chamo isso de uma académico e nós não temos muito isso. Penso que uma das formas de introduzir produções intelectuais moçambicanas é os próprios académicos  serem académicos,  todos os professores universitários passarem a ser académicos, produzirem obras que não repetem o conteúdo de exterior,  mas que reflectem na base desses conteúdos científicos o seu próprio contexto. Temos que escrever mais, temos que intervir mais como académicos, mas só o fazemos como professores. O segundo é um problema ético que vejo na ciência, porque analisar o contexto das culturas implica uma certa humildade intelectual, principalmente se estivermos num contexto moçambicano, em que a maioria das pessoas são analfabetas. Portanto, implica sair para uma povoação, conversar com as pessoas sobre os seus pensamentos, suas opiniões e as possíveis ilações que podemos tirar para as universidades. O meu antigo reitor costumava dizer que as universidades devem ser mordidas por mosquitos. Significa que os universitários académicos devem ter uma humildade intelectual de se deixarem ensinar pelos velhos, pelos jovens que estão nas comunidades. Então, isso também é um problema  ético. Então, como último recurso vamos recorrer ao ocidente para escrevermos os nossos livros.
No “Referenciais da Filosofia Africana”, assim como no “Pensamento Engajado”, repete sempre a ideia segundo a qual a filosofia tem que regressar à tradição. Este regresso é feito do mesmo jeito que o ocidente apelou para que a antropologia voltasse à casa?
Penso que falo da necessidade da filosofia moçambicana libertar-se de dois tipos de debate. Primeiro, tem que se libertar do debate ocidental,  que tenta sempre periferizar. Outro é do debate tradicionalista de considerar filosofia africana simplesmente quando a pessoa acredita na feitiçaria, quando a pessoa vai falar com os velhos. Não podemos nos encaixar nessa esquina de classificação filosófica. É uma dupla libertação, que acho que a filosofia deve fazer. Agora, a libertação em relação ao ocidente está, demasiadamente, escrita, por isso, que dou mais atenção à libertação ao debate tradicionalista. Mas libertação não significa ignorar, significa ter a humildade intelectual necessária para se deixar ensinar pelas tradições. O que sinto, em muitas conversas com outros filósofos moçambicanos, é olharem na tradição de duas formas. Uma como uma coisa que se deve empurrar e lutar contra ela; a outra como sendo a panaceia das nossas soluções. É neste sentido que falo de facto que a filosofia deve ir à tradição, mas não com espírito tradicionalista.
Podíamos revisitar os três eixos que apresenta no “Referenciais da Filosofia Africana”, que são a escravidão, a colonização e glocalização. Ainda se justifica hoje olharmos para a nossa construção como nação e como sociedade partindo da colonização e escravidão ou temos de começar a pensar na glocalização?
escrevi um artigo sobre o livro de Samora Machel que o professor Severino Ngoenha publicou e dei-me conta de que hoje o número de escravos duplicou em relação ao período em que havia escravidão oficial. Cerca de doze milhões e meio de escravos foram levados de África para as Américas, Europa e outros continentes. Hoje temos quase 25 milhões de escravos. Quando definimos escravatura como uma condição de vida péssima, em que o indivíduo não tem direito de mudar essas condições. E a maioria desses 25 milhões  são africanos. Estou a falar da escravidão física que ainda não acabou, então imaginemos a escravidão mental. Enquanto não se libertar disso, enquanto a filosofia não estiver contra essa escravidão mental que ainda hoje tem as suas consequências, então a luta continua. Justifica-se hoje chamar atenção, tanto mais que não seja para se repetir. Então, não se justifica, filosoficamente, por ter havido escravidão, justifica-se pelo futuro, no sentido de que nós africanos não queremos mais ser escravizados, nem mais colonizados. Por isso que volto sempre nos meus escritos, porque a escravatura é o ponto de saída, porque é ai onde se determinou o pensamento africano.
No “Pensamento Engajado”, que assina com o Professor Severino Ngoenha, diz que só pode haver sonho dos sonhos que justifique que as pessoas se levantem e rebelem-se. Esse sonho para vocês é a liberdade? Podem justificar-se os conflitos africanos com base nesses sonhos dos sonhos?
Como dissemos antes, África entra na história como escrava, está na periferia da história como um continente escravizado. Nos outros continentes os africanos são conhecidos, primeiro, como escravos e não na outra condição. Nem na condição de reis, nem de régulos, é na condição de escravos. Segundo, os africanos entram na história como colonizados. Terceiro, África está na história, neste momento, como subdesenvolvido, com os índices mais altos da mortalidade, mais baixos de crianças que vão à escola. A luta diária dos africanos, desde que entraram na história como escravos, como colonizados e como subdesenvolvidos, é o sonho da liberdade. Isso explica também os movimentos mundiais. Por que as pessoas vão ocupar wall streat, esse movimento todo que está a suceder pela Europa (“Os Indignados”)? é porque há uma sucessão de que as liberdades fundamentais não foram resolvidas, tanto no contexto africano, como no mundial. As liberdades fundamentais, que são os direitos do homem, não estão a ser resolvidas. O capitalismo não é alternativo, onde essas liberdades fundamentais vão ser realizadas. Portanto, quando  falamos que sempre que essas liberdades estão em causa as pessoas pegam em tudo o que têm nas mãos para poderem exigir os seus direitos, é mesmo para chamar atenção que a luta pela liberdade é eterna, é histórica.
Diz que o capitalismo não é onde essas liberdades podem ser resolvidas. Partindo de duas ideias, uma que defende que se a Europa teve a revolução industrial África precisa de uma revolução social; outra que aponta que o capitalismo falhou e toma como exemplo a crise financeira. Temos de voltar para socialismo ou temos uma outra via?
Penso que África precisa de dois tipos de revoluções. A primeira, sem dúvida, que é agrícola: material de produção de alimentos, comercialização, distribuição. Chamo mesmo agrícola – podia chamar económica. Se chamássemos económico talvez repensássemos nos esquemas de redistribuição de riqueza. Repare que o professor Severino Ngoenha, no livro “Os Tempos da Filosofia”, diz que a guerra em Moçambique terminou sem vencedores.  Ou seja, Severino Ngoenha diz que quem venceu é o FMI e o capitalismo mundial, portanto, a violência continua.  Já não temos a violência das armas, mas temos a causada pela distribuição de riquezas muito desigual. O continente africano tem a distribuição de riqueza mais desigual do que os outros. Uns mantêm-se muito ricos e a maioria muito pobre. A segunda é revolução cultural, onde se inclui a tecnologia e a ciência. A nossa cultura científica precisa de se reencontrar com as culturas tradicionais comunitárias. Se me perguntarem assim: “disseste que o sistema capitalista não é uma alternativa viável para a realização das liberdade”, vou dizer que não, principalmente devido à aliança que existe agora no mundo entre o capital financeiro e a política. Os bancos estão a dominar todos os esquemas do mundo. A ideia original de um banco é para facilitar o desenvolvimento. E, quando se torna uma elemento que impede esse desenvolvimento, temos que nos equacionar por que precisamos de um banco na nossa economia se não é financeiro. Não tenho uma solução para dizer que tipo de sociedade nós precisamos. Graça Machel tem falado de “um estado solidário” e existem outras discussões à volta disso. Mas uma coisa é certa, qualquer sociedade que queiramos construir deve equacionar três valores básicos: o que é moçambicanidade? O que é africanidade? qual é o lugar de Moçambique em África e de África no mundo? E o que é aquilo que nós chamamos de ser glocal, que mesmo localmente usufrui dos direitos que a modernidade lhe dá, que é ir à escola, ter habitação condigna e evoluir até aos direitos espirituais de poder ler, ser membro de um partido, de uma religião.
No “Pensamento Engajado” escrevem que se substituiu Deus pelo Ocidente. Que impacto tem na nossa existência como um continente e até mesmo como um país a substituição de Deus pelo Ocidente?
Há um consenso geral de que desde que começaram as políticas de liberalização os conflitos  sociais aumentaram. Desde que entrou FMI não vejo um resultado positivo a não ser uma aliança muito estreita entre as elites políticas, económicas e intelectuais com ocidente, deixando o povo em condições piores que antes. Se não há nenhum resultado positivo por que vamos continuar a fazer isso? Temos que fazer uma equação de existência como seres humanos, africanos e moçambicanos, neste momento, e o que precisamos para o futuro? Até que ponto essa presença não é uma ingerência, não é um atentado à soberania de decidirmos por nós mesmo? Isto está no quadro da estrutura do nosso “Pensamento”, que tem dois eixos: um que é a desmistificação do ocidente. Portanto, não podemos considerar que o sistema político, o sistema económico,  a forma como o ocidente faz a democracia, que são deuses. Temos que desmistificar este papel divino, este papel  de líder que o ocidente tem hoje. desmistificar não significa não querer, mas desestruturar.
Como é que olha para a democracia em África? Será que os países africanos são realmente democráticos?
Tenho um capítulo deste livro “Pensamento Engajado” que se chama “Espírito de Democracia” e, em certo momento, digo que corremos o risco de termos uma democracia sem democratas. Concebo a democracia em três dimensões: há democracia como sistema com limitação de poderes, divisão de poderes. Ou seja, de uma forma clássica temos poder legislativo, poder executivo e temos poder judicial, que estão separados, estruturalmente, mas, por vezes, em África, sobretudo em Moçambique, há uma promiscuidade e essa tentação nenhum político escapa a ela. Mas temos uma democracia, em termos de sistema, que funciona. Temos um parlamento; temos eleições e limitação de mandatos, tudo isso que faz parte de uma democracia moderna. Segundo, democracia é um método de trabalho, aprende-se na escola e aprende-se a viver democraticamente. Aí é onde vejo problema, porque os nossos partidos, particularmente da oposição, não têm uma democracia interna. Têm uma espécie de líderes internos, não são eleitos ou as eleições são feitas de uma forma obscura. Isso faz com que eu volte à tese de que corremos o risco de termos uma democracia sem democratas, porque nessa educação democrática, através de utilização de métodos democráticos nas organizações, ainda temos um grande défict até como consubstanciar isso nas nossas leis, obrigar os partidos, obrigar as organizações de massas a terem métodos democráticas de eleição dos seus líderes. Isso no geral vai criar a disposição de aceitar os resultados. Em terceiro lugar, falo de valores democráticos. Esse é que é o ponto central da democracia. O que você pode sentir em países democráticos é o respeito pelo outro; ter tempo de ouvir a argumentação do outro; ter uma predisposição para debate de ideias num parlamento e ser fiel aos seus princípios. Esses valores não existem, o que seria sustentáculo da democracia como sistema.

Fonte: http://www.opais.co.mz/index.php/entrevistas/76-entrevistas/17439-a-falha-do-capitalismo-e-o-dominio-da-banca.html

Entrevista com Severino Ngoenha: O que a Filosofia tem a dizer?



E esta semana, apresentamos a reflexão do académico e filósofo Severino Ngoenha sobre a actual governação do país e o debate da revisão da constituição da República.
O senhor defendeu, há dias, ser urgente um novo contrato político e social no país. Quais as razões de fundo que o levam a propor isso?
Estou lisonjeado, porque não é fácil exibir-se durante 60 minutos como se tivesse muito a dizer. De qualquer forma, agradeço o convite. Há alguns anos atrás, o seminário da Matola organizou uma espécie de conferência ou congresso em filosofia subordinado ao tema “O papel da filosofia na construção da democracia”. Comigo, estavam presentes Lourenço do Rosário e o actual reitor do Instituto Superior de Relações Internacionais. Nós tentámos, cada um com o seu background cultural e teórico, trazer uma resposta a esta questão. Eu não consegui responder imediatamente a questão, levei quatro a cinco anos a respondê-la, e isso deu origem àquele livro “Os Tempos de Filosofia”. O título “tempos de filosofia” queria dizer que os tempos de filosofia são tempos particulares. Significa que enquanto o senhor que é jornalista tem de responder imediatamente às solicitações, tem que dar informações imediatamente para que as pessoas saibam o que acontece no país e no mundo; enquanto o economista tem o dever de responder imediatamente às conjunturas socioeconómicas nacionais e internacionais; ou o sociólogo interpreta os factos como se apresentam imediatamente; a filosofia precisa de mais tempo. Quer dizer que nós praticamos uma ciência que pelos seus métodos, pelas suas teorias, precisa de muito mais tempo, muito mais vagar para elaborar as suas colaborações, para se chegar, digamos assim, a posições que podem ser mais ou menos fundadas. E nesse livro que saiu quatro ou cinco anos mais tarde - “Os Tempos de Filosofia” - eu dizia, e aqui começo a responder à sua questão, que as sociedades nas quais vivemos, as sociedades ditas modernas, as sociedades do estado de direito, são sociedades contratuais. Significa o quê? Significa que nós somos sujeitos, digamos, sob ponto de vista teórico, que decidem viver juntos e que passam a ser responsáveis ou co-responsáveis uns dos outros. É essencialmente o que se tem chamado contrato de sociedade ou contrato social. Quando numa sociedade o contrato social vem a falhar, nós entramos num prisma de conflito e de violências que podem ser graves. O que significa um contrato social falhado? Nós, em qualquer sociedade, temos elites. podem ser elites políticas, económicas, intelectuais ou mesmo académicas, às quais eu também posso pertencer. Mas nós temos uma responsabilidade moral, quer dizer que o pouco ou o muito que o país tem, de certa maneira, tem que ser em benefício de maior número.
Quando propõe um novo contrato social neste país, quer dizer que o nosso contrato político-social actual está a falhar?
O contrato social tem que ser sistematicamente reabilitado, sistematicamente revisto. Em todos os países, as disparidades entre as classes sociais correm o risco de se acentuar, e quando a discrepância em termos de distribuição entre as classes sociais falha no seu contrato social, isso pode trazer violência.
E como é que caracteriza o nosso contrato político-social?
O nosso país, na chamada primeira república, que é o período que vai desde a independência até ao fim da chamada guerra civil, foi caracterizado por uma política que se queria essencialmente distributiva. Isso é, por um lado, motivado pela conjuntura internacional. recorde-se que Moçambique se torna independente em 1975, quando existiam dois blocos, e os que nos ajudaram na guerra da independência pertenciam ao bloco da esquerda. E nós, quer pela adesão de alguns à ideologia do bloco da esquerda, quer pela ajuda que tínhamos recebido de aqueles que aceitaram lutar connosco para a independência, acabámos entrando no bloco da esquerda. Recorde-se que os africanos, os países do sul, sempre quiseram entrar no não-alinhamento, não quiseram essencialmente entrar no bloco da esquerda. Mas de 1975 até ao fim da guerra, a esquerda foi essencial, porque defendeu princípios de unidade, trabalho e vigilância, o sentido de pertença, o orgulho de ser moçambicano. Naquela altura, aquilo foi, em minha opinião, estritamente necessário. Ora, com o fim da guerra fria, com a derrota da União Soviética e seus aliados, nós não tínhamos alternativa, além de passarmos para a direita, o que aconteceu, aliás, com quase metade dos países do mundo. Os que não passaram, tiveram situações complicadas, basta pensar na Cuba ou na Coreia do Norte. Ora, o que acontece é que o contrato social estabelecido na primeira república tinha que ser revisto, para que, na segunda república, o facto de alguns começarem a emergir como elites económicas não fosse em discrepância com o maior número. O que aconteceu é que tivemos uma aceleração de um pequeno grupo de pessoas que foram tendo meios exorbitantes, através da cooperação internacional, através de uma confusão que se criou entre o político e económico, mas o maior número de pessoas não viu benefício naquilo que foi o crescimento do pouco. Ora, o contrato social significa reabilitar sistematicamente aquilo que é a divisão de bens, de recursos, da riqueza, do crescimento económico, entre as duas classes sociais.
Como isso seria feito?
Isto tem que ser repensado sistematicamente. o que não pode acontecer é que haja pessoas com milhões de dólares nas contas privadas, casas, carros, com benefícios extraordinários, quando a maior parte das pessoas não tem esses benefícios. Não quer dizer que o rico não tenha que ser rico. Nós precisamos de ricos, de elite e de uma burguesa. mas esta tem que ter a consciência da responsabilidade que tem pelo contrato social que estabeleceu com a outra parte da sociedade. Por isso, deve rever sistematicamente o sistema de distribuição de riqueza, de modo a favorecer o maior número de pessoas possível.
Na governação de Chissano havia mais abertura para o diálogo
Criticando a falta de abertura política no país.
Severino Ngoenha recomenda um debate político mais amplo. Diz ainda que o espírito da actual revisão da lei-mãe deve ser a inclusão de vários círculos de opinião na procura de resolução de problemas do país.
Portanto, quer dizer que a actual burguesia, a elite, olha apenas para si e não para a maioria?
Penso que temos uma elite económica emergente que às vezes se confunde com uma elite política, ou, se quisermos, é da elite política que surgiu a económica. Mas, como digo, para que uma elite seja como tal, não basta que seja política, económica ou intelectual, é preciso que tenha uma dimensão moral. e é esta conotação de moralidade que a elite tem que ter para ter a responsabilidade em relação às restantes pessoas. E penso que não posso, honestamente, dizer que o conjunto das pessoas que constituem a elite, hoje, não tem o sentido de responsabilidade para com todos, mas aquilo que aparece aos olhos nus é uma discrepância maior entre as elites e as massas.
O país está hoje a debater a revisão da Constituição da República, o que, se calhar, é uma oportunidade para repensar este contrato social. Que alterações é preciso fazer para responder aos desafios que se impõem ao país com esta revisão constitucional?
Há duas coisas que gostaria de dizer a este propósito. A primeira vai ainda na direcção da pergunta que fez antes. Nós falámos de contrato social, mas eu introduzi um conceito a que chamei contrato político. O que chamo contrato político? Contrato político significa para mim reinventar os mecanismos de debate de ideias ao nível nacional. Durante a presidência de Chissano, nós víamos com frequência encontrarem-se, conversarem, e debaterem ideias, e tornou-se uma prática constante. Até se chamavam “meu irmão Chissano, meu irmão Dhlakama”. Não digo que isso não aconteça agora. temos as chamadas presidências abertas, mas não são um diálogo aberto entre as partes que constituem a elite política ou os fazedores da política nacional. O que chamo contrato político é essa capacidade de fazermos da palavra e do diálogo o mecanismo necessário para continuarmos numa esfera de pacificação contínua de que o país e o continente têm necessidade. Quando se faz uma revisão da constituição, deixemos todo o resto com juristas, aquilo que me parece a falhar é esse contrato político, quer dizer, os pareceres dos partidos políticos, da sociedade civil, para evitar ruptura do diálogo, para evitar conflitos, situações do Zimbabwe, Guiné-Bissau, Madagáscar, Somália. O nosso continente está repleto de conflitos e nós mesmos conhecemos o conflito, sabemos o que sofremos e  ainda estamos a sofrer.
Olhando para a forma como este diálogo está a acontecer, fala de um diálogo franco e aberto. Até hoje, passado ano e meio, ninguém conhece as premissas dessa revisão. Será que temos a abertura para esse diálogo?
Também não sei o que se pretende rever na constituição. Mas o que me parece importante é que devia ser uma prática - num país como o nosso, que sai de uma situação de grandes dificuldades e continua a viver situações difíceis - que introduzíssemos como prática um diálogo, uma espécie de debate aberto, como acontecia na primeira república; que houvesse teses como a Frelimo vai fazer para o seu congresso; que as teses fosse debatidas ao nível dos vários círculos de opinião. Que fosse um debate contraditório, entre os partidos e fora dos partidos. Quanto mais aberto e quanto mais contraditório for o debate, de uma forma dialética, pode encontrar-se as respostas para as questões com que estamos a ser confrontados. É a isto que chamo contrato político, e parece-me que a constituição deve ser o fundamento desse contrato político, mas também deve pousar sob um substrato filosófico, que faz dele um instrumento de diálogo suplementar, para melhorar as condições da viabilidade política em Moçambique.
Falou da necessidade de um diálogo sério e honesto. Acha que actualmente, em Moçambique, o diálogo não é assim?
Aquilo que me parece é fazer do diálogo - quase podia dizer antropologicamente - palavra. Palavra, no sentido daquilo que os antropólogos pensam que é próprio do continente africano, desde a discussão em baixo de uma árvore, como fazem nas nossas povoações, uma prática de auscultação do outro, para saber qual é a sua percepção de um determinado tipo de problema. Digo mais: há muitos actores políticos, sociais, que não fazem parte do parlamento, não fazem parte dos partidos políticos ou outro tipo de activismo. E essas pessoas não são dignas de ideias? Não são dignas de pensamentos? Ou de contribuições importantes? A minha ideia é que se nós fizermos do contrato político um substrato jurídico sobre o qual pousa a nossa constituição, vamos criar espaço, independentemente daquilo que é a configuração jurídica, para que a palavra, a discussão, o diálogo, a troca de opiniões, possa constituir substrato fundamental da governação de Moçambique, e isto, uma vez mais, vai impedir que certos conflitos surjam. Os conflitos não precisam de ser como do Zimbabwe, do Madagáscar (…). violência real ou simbólica existe na nossa sociedade quando há crianças que não têm o que comer, quando nós gastamos num restaurante três mil a quarto mil meticais e pagamos aos nossos empregados mil a mil e quinhentos meticais; isto são situações de violência. Temos que encontrar sistematicamente um mecanismo que nos permita, através da discussão, sair disto, de modo a encontrar uma plataforma para que todos os moçambicanos possam participar.
Olhando o que está a acontecer e do diálogo que devia haver, não está a ser amputada esta possibilidade, quando não se divulga o conteúdo da revisão da constituição da República?
Acho que devíamos saber, mais do que saber o que se quer fazer, o espírito do que se pretende fazer. Aquilo que os filósofos fazem, enfim, aquilo que é o meu trabalho, não é tanto olhar a forma bruta, como os juristas, os constitucionalistas fazem, é pensar naquilo que Montesquieu chamava espírito das leis. O que quero dizer é que o espírito sobre o qual a constituição deve ser revista deve ser de diálogo.
Desde 1990, Moçambique é um país que permite a pluralidade de ideias, através da liberdade de imprensa, de pensamento e de expressão. Olhando “terra a terra”, existe essa pluralidade?
A pluralidade de ideias, nós até podemos dizer que existe, porque se manifesta pela existência de partidos políticos diferentes, que teoricamente deviam ter filosofias políticas diferentes. Quer dizer, um partido político não devia ser simplesmente um aglomerado de amigos ou de pessoas que se decidem meter juntas e criar uma partido. Deviam ter um substrato de pensamento, defender alguns princípios de base.

Fonte: http://www.opais.co.mz/index.php/entrevistas/76-entrevistas/14715-governo-deve-rever-mecanismo-de-distribuicao-da-riqueza-no-pais.html

Wednesday, July 20, 2011

Os zuzuns de uma geração de transformação!!!!

Eu por muito tempo me considerei excluído do discurso produzido sobre o desenvolvimento por que a pobreza que se falava era EXAGERADA!!! E sempre me perguntava e não encontrava a resposta: temos tudo ou não temos nada, fazemos ou sonhamos, amamos ou odiamos, etc. Equívocos que um jovem da minha idade poderia constantemente representar no seu quotidiano. Ou era o mercado que me passava apercebido pelo acréscimo de preços ou era a violência da indústria em crescimento e por outro lado muito charlatanismo politicizado e aplaudido pelos inseguros, ou mesmo a ganância da corrupção presente em cada esquina.
Isso tudo por que a minha exclusão me incluia in generis aos pobres e aos mais afectados por aquilo que tradicionalmente chamamos de "sistema". A quem lançamos a culpa. Mas com quem mais poderia me incluir? não faz sentido excuir-se sem qualquer inclusão em outro grupo. Não valiam os meios, nem as virtudes mas o facto de eu considerar que haviam outros que platonicamente se incluiriam no meu lamento foi uma motivação única para fortalecer a minha convicção que o descontentamento com o presente representa claramente essa mudança de pensamento geracional, que outrora tendíamos a aplaudir. 
Hoje, mais do que nunca mais vale ser o que sou...não sou da viragem, não sou da mudança, mas sou da transformação! transformação essa que implica uma mudança real ao pensamento, negação da atitude débil de devedor e agir para poder alcançar mais do que eu poderia imaginar: a real liberdade de ser o que sou. Parte de uma geração de negação do mal que assola o quotidiano e agir para o melhor dos mais fracos e vulnerabilizados. 
Sou da geração sheeta/shita/chita que não concorda com o vampirismo em crescimento na sociedade, que não apela a cortesia da maldade, que não pactua com a irracionalidade desenfreada da ganância....
http://www.ted.com/talks/george_ayittey_on_cheetahs_vs_hippos.html

Thursday, January 13, 2011

O Homem é Aquilo que lê !!! (falácia)



Os grandes desafios actuais da escolaridade em Moçambique mostraram claramente que muitos alunos do ensino primário e infelizmente também estudantes do ensino universitário lêem pouco. O que isso significa? Signfica que por mais tópicos de leitura que o professore dê eles somente lêem o que estiver disponível, ou por outra, há maior preocupação em “fingir que se lê” do que em “ler o que finjo”. Este diámetro entre o ler e o ser constitui a incognita do educador. Por que o conhecimento constitui uma chave para desvendar o mundo. Mas de que nos importa o mundo se no fundo o que queremos é dinheiro e vida boa? Essa questão deve ser analisada em outros meios com outros fins pretendidos, contudo está mais que claro que a leitura é um exercício considerado complicado, por considerer-se que mais vale ver um filme, telenovela ou jogar o playstation que inventar motivos para fechar-se em um quarto ou biblioteca e ler.
O hábito é que faz o monge e o monge é um homem de hábitos, essa sequela é inconfundível pela profundeza da relação. O homem é aquilo que lê, ou é os livros que leu. Consideramos que as diversas formas de literatura com que nos deparamos de certa forma condiciona o comportamento humano através da habilidade de enquadramento dos cenários lidos com o nosso imaginário e da relação deste com o quotidiano. Quer dizer portanto que se não leio não sou ou não existo? Não propriamente, a desventura do facto de não-leitor leva o homem a uma total ignorância, e Wittgenstein defendeu claramente a linguagem que falamos representam o horizonte do mundo em que vivemos, se aprendi que mais vale dizer “quadrado” e não percebo o que significa o termo “paralelopípedo”, está mais que claro que a minha intervenção em certos meios estará reduzida a possibilidade das palavras que uso e delas a percepção do mundo.
Complicado?
Acredito que não, se uma criança de cinco anos entra numa aula de metafísica num anfiteatro universitário ou vai a uma palestra de física quântica, claramente ela se considerará desenquadrada ou perdida, por que o universo do seu vocabulário ainda não apreendeu novos conceitos possíveis de dialogar com metafísicos e físicos. Consideraremos então que a criança de cinco anos encontra-se numa condição de inexistência académica no círculo dos metafísicos e académicos.
Claro!?!
Quanto a leitura?
O homem que lê livros religiosos é considerado religioso, o homem que lê romances é considerado romântico, a mulher que lê livros de culinária é considerada cozinheira. Ora, os livros que leio desenham o que sou para mim e de certa forma o que  também sou para os outros. Se não leio não sou e se sou é porque leio!
Capisce?!

Friday, January 7, 2011

TED WILLIAMS: De mendigo a estrela de rádio e televisão

UM mendigo com excelente voz de rádio teve a sua vida transformada, passando a locutor de rádio e com um salário de milhares de dólares, isto em menos de 24 horas. O insólito caso deu-se nos Estados Unidos da América, quando Ted Williams, morador de rua na cidade de Columbus viu o seu vídeo exibido no site YouTube, onde aparecia exibindo os seus dotes de “grande locutor”. Imediatamente, começaram a chegar propostas de emissoras de rádio e televisão e até doações de milhares de dólares para ele.
Maputo, Sexta-Feira, 7 de Janeiro de 2011:: Notícias
 
Tudo começou com a curiosidade do cinegrafista, Doral Chenoweth, que decidiu “brincar” com o mendigo que exibia uma placa com os dizeres “Tenho o dom divino da voz, sou um ex-locutor de rádio que caiu em desgraça”.
Com a sua câmara, Chenoweth deu dinheiro ao mendigo com a condição de que devia “trabalhar”, o que não era mais do que demonstrar os dotes da divina voz que dizia ter.
A espectacular voz do mendigo foi então registada, numa gravação que comoveu dezenas de milhar de pessoas no YouTube, trazendo milhares de pessoas à sua causa. E em poucas horas, milhares de utilizadores do site já estavam a promover o talento de Williams.
Para além de ajudarem a promover o vídeo, começaram a “chover” milhares de dólares em doações. E um ouvinte anónimo ofereceu 15 mil dólares norte-americanos a uma rádio local para ajudar a pagar os primeiros salários de “radialista mendigo”, enquanto outros programas de rádio e televisão manifestavam o seu interesse em exibir, e até mesmo contratar, sua voz grave e suave.
No entanto, enquanto se promovia o talento de Ted Williams e surgiam propostas de emprego, ele continuava sem saber de nada, para além de que ninguém o conseguia encontrar.
As propostas simplesmente não chegavam ao maior interessado que não tinha residência, telefone e muito menos acesso à Internet para saber que já havia se tornado uma celebridade internacional e que não precisava mais pedir esmolas.
Só no final da tarde de quarta-feira é que Ted Williams foi localizado e informado da boa nova. E na manhã de ontem ele já estava a dar entrevistas a uma rádio local, e foi publicada no YouTube.
Para além da fama instantânea, doações em dinheiro e propostas de emprego, Williams também já ganhou uma casa nova e uma segunda possibilidade de fazer valer o seu talento.





Fonte: http://www.jornalnoticias.co.mz/pls/notimz2/getxml/pt/contentx/1162307

Thursday, January 6, 2011

Para filósofos, revelações do Wikileaks transformam relações de poder


Capa do jornal francês Liberation
Capa do jornal francês Liberation
Liberation.fr
Elcio Ramalho *
 
A revelação de documentos secretos da diplomacia americana pelo site Wikileaks continua rendendo manchetes na imprensa francesa. Em sua edição desta quinta-feira, feita com a participação de intelectuais, o jornal Libération publica várias análises sobre o escândalo que agita a política internacional.
Com o título "a ditadura da transparência", a psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco chama os hackers que tiveram acesso e divulgaram os documentos secretos de Robin Woods de um movimento anti-globalização suspeito que pretendem demonstrar a todos os internautas que governos de todo mundo organizam verdadeiros complôs contra os cidadãos.
Para Roudinesco, o caso revela que os governantes hoje são vítimas da mesma ditadura da transparência que atinge os cidadãos e também que os meios de comunicação se tornaram tão poderosos quanto os líderes mundiais nos destinos no mundo.
Já o escritor italiano Umberto Eco entende que as revelações provocam esse barulhão todo porque, de um lado, confirmam o que muitos já sabiam.
Depois da Segunda Guerra mundial, as embaixadas se transformaram em centros de espionagem. E, por outro, o fato de um hacker, o pirata de computador, ter acesso e espalhar documento secretos da maior potência do mundo, representa um golpe duro no departamento de Estado americano e muda a dinâmica das relações entre cidadão e poder.
Se até então, um governo podia controlar até onde uma pessoa passou a noite de hotel, agora o cidadão, ou pelo menos um hacker, pode conhecer os segredos do poder.
Como um poder que não consegue manter seus próprios segredos poderá se manter? Quais serão as consequências deste golpe imposto a um poder tão influente? questiona Umberto Eco. O escritor imagina que após tantos progressos tecnológicos, haverá uma volta ao tempo onde informações serão guardadas apenas no papel e em gavetas trancadas à chave. Não será estranho pensar que as práticas políticas e as técnicas de comunicação voltarão ao tempo das charretes, brinca Umberto Eco.
Socialistas
O conservador Le Figaro dedica sua manchete a um tema da política local ; as relações de poder dentro do Partido Socialista, o maior partido de oposição. O jornal informa que a postura silenciosa de Martine Aubry, secretária-geral do Partido Socialista, preocupa muitos partidários especialmente depois de Segolène Royal ter manifestado sua intenção de novamente concorrer às eleições presidenciais de 2012.
Euro
A crise do euro é a manchete do econômico Les Echos. Para o jornal, o Banco Central Europeu enfrenta alguns desafios imposos pelos mercados. Em sua última reunião, o Conselho dos governadores do BCE deve manter ou ampliar as medidas que têm provocado uma reação das bolsas e valorizado a moeda única europeia, diz o jornal.

* Fonte: http://www.portugues.rfi.fr/geral/20101202

Novo centro de documentação pretende impulsionar investigação sobre Nietzsche

 

O edifício finalizado ao lado da residência materna de Nietzsche, em Naumburg, deverá abrigar o maior acervo bibliográfico particular sobre a recepção desse pensador que viria a marcar profundamente o século 20.

 

A obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) vai ganhar mais um espaço de investigação com a planejada abertura do Centro de Documentação Nietzsche (Nietzsche-Dokumentationszentrum) em Naumburg, em outubro próximo.
A iniciativa surgiu em 2000, centenário da morte do filósofo, quando a cidade de Naumburg – onde Nietzsche passou grande parte de sua vida – recebeu a oferta de adquirir a biblioteca do germanista norte-americano Richard Frank Krummel, considerada a maior coleção particular sobre a recepção desse filósofo no espaço de língua alemã.
Casa 
Nietzsche em Naumburg 
A aquisição do acervo Krummel foi o ponto de partida para a fundação do centro de documentação, que será instalado em um novo edifício ao lado da Casa Nietzsche, em Naumburg.
Segundo Ralf Eichberg, codiretor do centro de documentação, o volume do novo acervo bibliográfico – que se estenderá por 520 metros quadrados – não poderia ser abrigado no museu-casa, que deverá ser mantido intacto para visitas públicas.
O novo edifício, construído ao lado da residência materna de Nietzsche, está praticamente finalizado. "Hoje ou amanhã os andaimes deverão ser desmontados", declarou Eichberg à Deutsche Welle nesta quinta-feira (05/08).
Obra dispersa, e controversa
A inquieta trajetória intelectual e pessoal de Friedrich Nietzsche torna-se de certa forma legível nos lugares onde viveu, muitos dos quais guardam até hoje os rastros de sua passagem.
Naumburg, localidade com menos de 30 mil habitantes situada entre Leipzig e Weimar, foi onde Friedrich Nietzsche passou, a partir dos cinco anos de idade, sua infância e adolescência, e para onde retornou em 1890, permanecendo durante anos sob os cuidados da mãe, após ter sofrido um colapso psíquico do qual nunca mais se recuperaria.
Também foi em Naumburg que sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche, criou nesta mesma época o Arquivo Nietzsche, aproveitando-se do crescente renome do irmão. Logo o arquivo seria transferido para as imediações de Weimar, onde a poeta suíça Meta von Salis-Marschlins colocou à disposição da família, em 1897, a residência onde Nietzsche passaria os últimos anos de sua vida, aos cuidados da irmã.
Essa residência, cujo interior foi inteiramente reformado pelo arquiteto belga Henry van de Velde na época, pode ser visitada hoje como mais um dos marcos da vida de Nietzsche, embora a biblioteca do filósofo tenha sido incorporada à Anna Amalia Bibliothek na década de 1940. Também foi nessa época que parte dos manuscritos e todo material de arquivo foram transferidos para o Arquivo Goethe-Schiller, também abrigado em Weimar.
Outra parte dos manuscritos de Nietzsche se encontra, por sua vez, na biblioteca da Universidade da Basileia, onde o filósofo trabalhou de 1869 a 1879. Foi para lá que seus amigos levaram parte de seus escritos, reagindo à tentativa de falsificação por parte de sua irmã.
Elisabeth Förster-Nietzsche – que na década de 1880 vivera no Paraguai o fracasso da colônia "ariana" Nueva Germania, fundada pelo seu marido Bernhard Förster – não deixou de ter êxito em sua tentativa de adulterar a obra do irmão como corroboração da ideologia antissemita. Foi na Basileia, entretanto, que se desenvolveu outra tradição de estudos nietzscheanos, independente da cooptação do filósofo pelo nazismo.
Para além da reconstituição filológica
O novo centro de documentação em Naumburg não se vê em concorrência, no entanto, com outros acervos da obra de Nietzsche, como Weimar ou Basileia. Ralf Eichberg explica que o centro se dedicará exclusivamente à recepção da obra do filósofo, sem qualquer pretensão de colecionar manuscritos ou relíquias.
Novo Centro 
de Documentação Nietzsche em Naumburg Bildunterschrift: Novo Centro de Documentação Nietzsche em Naumburg
Ao lado das funções museológica e pedagógica, a nova instituição pretende sobretudo oferecer condições de pesquisa para estudiosos de Nietzsche. Isso inclui não só abertura do acervo bibliográfico Krummel, cujos 7 mil volumes e inúmeros artigos esparsos ainda deverão ser catalogados nos próximos tempos, mas também a realização de simpósios e congressos sobre a obra do filósofo.
Para Eichberg, a disponibilização pública da biblioteca Krummel coincide também com o redirecionamento dos estudos nietzscheanos, que durante muito tempo mantiveram um viés estritamente filológico, ocupados em restabelecer a autenticidade dos textos falsificados.
A biblioteca do novo centro de documentação poderá dar um novo impulso à investigação científica, pois oferece subsídios para o estudo de múltiplos aspectos da recepção de Nietzsche, não só filosóficos, mas também literários e culturais.

Autora: Simone Lopes
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte:http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5870670,00.html

Wednesday, January 5, 2011

Morreu Malangatana, o pintor Moçambicano

O pintor-mor moçambicano Malangatana Valente Ngwenya faleceu esta quarta-feira  5 de Janeiro de 2011, deixando para trás uma vasta obra artística que vão de poemas á quadros. Malangatana era um exemplo para muitos artistas e percursor de um movimento artístico que revolucionou Moçambique. Seus ideais e suas paixões representaram a fonte de inpiração para muitos moçambicanos e não-moçambicanos. A sua identidade jamais abandonada, faz um eco de guerrilheiro oculto disparando silenciosamente na profundidade das almas moçambicanas.
Claro que ficarão muitos, mas, se foi sabemos que foi para um panteão digno da sua honra e peso.
Para os filósofos, Ma
langatana representa o pico da reflexão estética sobre a existência moçambicana. O que abriu uma possibilidade infinita de reprodução de questionamentos sobre o significado da identidade. Seus contributos únicos fazem dele um ícone inconfundível dos sonhos dos nossos passados e a ansiedade do nosso futuro.
Mestre Malangatana Valente Ngwenya (1936-201
Seus contos à volta da fogueira, seus blues espontâneos lembrarão o homem majestoso que foi, o pintor da Marrabenta, da txitxuketa e da Ngalanga. O moçambicano enraízado na profundidade de seus quadros explorando o quotidiano de seus irmãos e os seus próprios sonhos.
No fim de tudo o seu píncel ecoará profundamente em nossos olhos e a sua voz rir-se-á comicamente onde estiver daqueles que com ele cantaram, choraram e dançaram.




Paz á Sua Alma