Seguidores

Thursday, October 30, 2014

O DESAFIO DE REVER MARX EM MOÇAMBIQUE: Comentários à obra “Totalitarismo e Democracia” de Alberto J. Ferreira

Por: José P. Castiano


Em Specters  of Marx Derrida começa  por confessar  que, quando  teve que reler O Manifesto  Comunista  de Karl Marx e Friedrich Engels o que, como ele escreve, “já não fazia há anos”, como, decerto, muitos de nós sentiu um calafrio: eu sabia muito bem que havia um fantasma a espera lá, logo à partida, ao abrirem‐se  as  cortinas. Agora,  decerto,  descobri,  na verdade  lembrei-­me,  o que poderia  estar  a caçar  a minha  memória:  as  primeiras palavras dO Manifesto…”. Derrida refere‐se às primeiras palavras dO Manifesto: “Ein Gespenst geht um in Europa
das Gespenst des Kommunismus (do alemão: um espectro paira sobre a Europa: o espectro do comunismo).  

Professor José P. Castiano
, portanto, um “espectro  ou um “fantasma  que o atormenta (aliás, depois, com a leitura adentro, ficamos a saber  que    vários  espectros  ou  fantasmas).  Derrida  repara  que,  à  semelhança  do  Hamlet  (uma  pa  de Shakespeare),  pncipe de um reino em decadência,  os episódios começam com a aparição de um fantasma,  ou, mais exactamente,  pela angústia  causada  pela espera  da reaparição  do fantasma.  No caso de Hamlet  é o filho (Hamlet) que está enlutado devido à morte do pai; este reaparece como um fantasma. No caso dos marxistas e comunistas, desesperam‐se  hoje devido ao desaparecimento  da influência trica de Marx. Eu diria, mais do que a esperança  do seu reaparecimento,  ambos  (Hamlet  e os marxistas),  nesta angústia,  fazem  reaparecer,  renascer, ressuscitar o pai perdido”; desta vez não o “fantasma”, mas o seu espírito”. Marx volta a ser chamado para dizer-­‐ nos algo sobre o mundo de hoje s‐comunista e s‐revolucionário.

E, assim, neste esfoo de ressuscitar Marx, começa o fenómeno ou efeito espectral: cada um faz ressuscitar Marx
à sua maneira e necessidades. É, por isso, que Derrida declara: There is more than one of them, there must be more than  one  of them,  ou  seja,  há  mais  do  que  um  somente,  e deve  ser  mais  do  que  um  dos  que  reclamam  ser verdadeiros  herdeiros  de Marx. muitas vozes espectrais,  os herdeiros  de Marx são mais do que um (we are more than one form of speech [p.18]). Daí, o titulo Espectros de Marx. Mas, prossegue Derrida, cada uma dessas vozes corre o risco de estar out of joint, isto é fora do eixo do contexto do seu tempo, fora do eixo da conjuntura; ou melhor, todas as vozes que se dizem herdeiras de Marx estão fora do eixo tempo. Será?

Estará também Alberto Ferreira out of joint, que se inaugura no debate filosófico moçambicano, ao escrever sobre Marx com o livro Totalitarismo  e Democracia  (Edões  Paulinas,  2014), quase três cadas  depois do desmoronamento   da  primeira   grande  experiência   socialista   construída   e  sustentada   nos  ideais  comunistas marxianos? E, também, num tempo em que Mambique  saiu do eixo do seu tempo ao despedir‐se  oficialmente do socialismo  como  projecto  social  (que me lembre,   o Hino do Partido  Frelimo  ainda  ostenta  o  “socialismo triunfará”)?


Uma leiturdiagonal  sobre o substrato  filosófico  do Ferreira   é professor  de Filosofia  Política  na Universidade Eduardo Mondlane  e na Universidade  Pedagógica   mostra que ele tem uma grande preocupão  pelo lugar do cidadão  (e o  pelo  povo que  o  quer  dizer  nada,  escreve  Ferreira  apoiando‐se  em  Locke).  Penso  que  a questão principal que Ferreira quer responder é: onde está o cidao no projecto de Marx? Que se passa com as liberdades individuais? No fundo, Ferreira usa Marx para interrogar uma das questões fundamentais que a filosofia política  em  Moçambique  tem  debatido  nos  últimos  anos:  a  questão  das  liberdades  do  africano  a  partir  do paradigma  ngoenhiano  que  podemos  chamar  de  “libertário (Cfr.  principalment em  Das  Independência às Liberdades e em Os Tempos da Filosofia de Severino Ngoenha).

Comecemos, portanto, pela questão da ideologia. A teoria de Marx sobre ideologia o se deve entender fora do contexto do seu conceito de classes sociais. A divisão dos homens em classes sociais parte da ideia marxista de que a situação económica é a que determina, em última instância, o lugar, a forma e a quantidade de apropriação  de cada  indivíduo  ao  produto  do  seu  trabalho  e  as  riquezas  criadas  numa  sociedade  em  geral.  Mas  o  factor determinante de todos eles é a posição que cada um ocupa perante os meios de produção. Se és proprietário e empregas pessoas, então estás na classe exploradora;  caso contrário é obrigado a ir pedir trabalho para produzir mais‐valia para os proprietários em troca de um salário que é suficiente para reproduzir a foa de trabalho que a  produçã capitalist necessit para  se  desenvolver Dependendo pois,  da  posição  perante  os  meio de produção, um indivíduo pertence à classe dominante ou à classe dominada.

No entanto, como o próprio Marx escreve em A Ideologia Alemã, as ideias dominantes não são mais do que a expressão ideal das relações materiais dominantes que tornam uma classe a classe dominante, e portanto as ideias da sua dominão”. Daqui sai a ideia da ideologia marxista. Ideologia em Marx inclui as concepções sobre a morala religião e a metafísica; ou seja, todo o conjunto de valores e ideias que possam ser suportadas e, por seu lado, suportar o sistema económico. Assim, o Estado capitalista abraça um conjunto de ideias e valores que estimulam a ideia de sucesso individual: se és bem‐sucedido na escola ou tens um bom emprego é por causa do teu talento; ou, no caso do contrário, se trata de fracasso individual. Estas ideias e predisposições  fortificam o sistema capitalistna  medida  em  que  estimulam  para  o trabalho  que  vai  enriquecer  ao  capitalista  que  se  apropria  dele  mas  amesmo  tempo  dá  a ideia  fictícia  (aqui  reside  o  carácter  ideológico)  de  que  para  ter  sucesso  individual,  basta trabalhar muito. É fictício porque o indivíduo isolado o se dá conta que está a contribuir para a reprodução das condões de produção capitalistas, ou seja, para uma maior exploração de um homem pelo outro.

Se o Estado capitalista  precisa de uma ideologia  para suportar as suas condões  de produção,  assim também  o Estado socialista. Pois, a classe operária vai necessitar de uma ideologia socialista para combater o seu inimigo capitalista. Se os meios de produção passariam, no socialismo, a ser propriedade colectiva e, por essa via, eliminar-­‐ se‐ia a apropriação  privaddo excedente  da produção,  então pouco teria sentidcontinuar  com  uma ideologia individualista,  como  anteriormente  vimos.  Uma revolução  de valores  ideológicos  se impunha  para  que a classe dominante  (operários)  pudess“impor os seus próprios  valores às sequelas  (pessoas  e  valores) do capitalismo. Para  esta  luta  era  necessári que  houvess um  aparelho”   ideológico e  est aparelh faria  o  “trabalho ideológico,  ou  seja,  o  de  criar  novos  valores  por  formas  a  “educar a  toda  uma  sociedade.  Assim  devemos compreender  o ímpeto  de abranger  toda uma sociedade  com uma mesma  ideologia,  ímpeto  materializado  em várias experiências socialistas por todos os cantos do mundo, incluindo a moçambicana.


Prof. Alberto Ferreira

 Ele intuiu  este  vazio  e feznos  regressar  a Marx  (haveria  outro  melhor?).  Ferreira  entrou  para  os nossos  armários poeirentos dos livros de Marx e nas nossas consciências recalcadas para sacudir os esqueletos marxistas.

Aliás, o foi somente a maioria dos moçambicanos que ficou de mãos vazias depois do falhanço do comunismo/socialismo. É o mundo todo que hoje não consegue ter uma alternativa trico‐explicativa abrangente o suficiente para compreender a actual crise económica, sobretudo porque esta encerra contornos políticos órfãos de novas utopias. Keith Hart, coordenador do grupo Human Economy e professor na Universidade de Pretória, e o dedo na ferida ao defender que o problema da actual crise mundial provem do facto de se terem removido os mecanismos  políticos nacionais de controlo das moedas (nacionais)  para instâncias  globais (vamos dizer: para os bancos americanos e europeus) enquanto o resto de políticas ainda continua a operar em contextos nacionais. Por isso,  segundo  ele,  assistimos  desde  2008  ao  fenómeno  da  crise  ou  mesmo  o  colapso  do  que  ele  chama  por “capitalismo nacional dada a perca do controlo dos termos de câmbios e valores das moedas nacionais pelos seus respectivos  governos.  Embora  a crise actual  apareça  como  sendo  financeira,  ela á,  no entanto,  profundamentpolítica, conclui Hart.

Assim, quem mais do que Marx poderia servir de referência para um exercício trico de deconstrução sobre como funciona o capital e o seu carácter fetichista nas condições de hoje? Ou ajudarnos  a redescobrir  o fio da meada que ele foi tecendo a partir da análise do átomo duma sociedade capitalista (i.e. a moeda) para chegar a desvendar o sistema político capitalista e deduzir uma utopia social? Atrevome mesmo a formular o convite a Ferreira para, no espírito espectral de Marx, aprofundar este tema, no seu próximo livro.

Acho  que  a  "revisão"  de  Marx,  no  mundo  contemporâneo,  e  em  Moçambique  em  particular,  principalmente quando esta é feita a partir duma perspectiva muito especial de Karl Popper, é de muita pertinência. De facto, os ataques popperianos a Marx na Sociedade Aberta e os Seus Inimigos, obra que foi e é obrigatória para todo o estudante de Filosofia Política, são incontornáveis para quem quer escrever “contra Marx. No entanto, Popper foi apenas um espectro de Marx por sinal out of joint. Noutra margem espectral  encontramos  outros que o leem com  outras  lentes  menos  obscuras.  Em  Porque  ler Marx  hoje?  o filósofo  britânico  Jonathan  Wolff  declara  que
"podemos  pensar em Marx como o bisavô do movimento  anti-­‐capitalista  hoje". Isto o antes de, uma  página
antes, ter escrito as premissas desta conclusão:

"Mas ao celebrar  o fim do 'império  do mal' esquecemo‐nos de que os pensadores  que inspiraram  o comunismo do Leste  europeu  não  eram  pessoas  mas,  pelo  contrário,  viam‐se  como  nossos  salvadores.  A  custa  de  um  enorme sacrifício  pessoal,  procuraram  libertar  a humanidade  daquilo  que  acreditavam  ser um  sistema  económico  e  social desumano:  o capitalismo.  Impelia‐os  tanto  uma  visão  de como  a sociedade  devia  ser como  dar conta  daquilo  que estava  errado  na sociedade  burguesa  existente.  A vio  positiva  tornou‐se  um pesadelo  (apesar  de  ser outra  coisa saber  se os regimes  comunistas  foram  ou não  uma  interpretação  autentica  das ideias  de Marx).  Mas  falhanço  do comunismo  o quer dizer que tudo esteja bem no capitalismo  ocidental,  liberal e democrático.  E é Marx, acima de
tudo, quem ainda nos fornece as ferramentas mais adequadas para criticar as sociedades existentes"8.

Tamm o deixo de olhar para as últimas palavras deste estudo sobre Marx escrito por Wolff: "Marx continua (hoje) a ser o crítico mais perspicaz do capitalismo (...). Podemos não confiar nas soluções para os problemas que ele  identifica,  mas  isso  o  faz  com  que  os  problemas  (por  ele  identificados)  desapareçam".   Os  críticos  do
capitalismo de hoje devem ter em Marx um fio de ouro como referência para as suas utopias.
Mas a resposta  convincente  da razão pela qual devemos  continuar  a ler Marx hoje é nos dada por Derrida.  Ele declara: Continuar a procurar inspiração de certo espírito do marxismo seria ter fé no que sempre foi o principal do marxismo,  como  prinpio  e acima  de tudo a crítica  radical,  nomeadamente  o procedimento  de fazer a sua própria autocrítica. Esta crítica quer, por si mesma e de forma explícita, ter como princípio ser aberta à sua própria transformação,  reavaliar‐se,  auto‐interpretar‐se. Nesta linha, segundo Derrida, o marxismo se coloca na linha do
espírito do iluminismo (spirit of the enlightenment), espírito este que o deveria nunca ser abandonado9.

Efetivamente,  segundo  Derrida,  a  razão  de  voltarmos  a  Marx  deve‐se  ao  facto  de  ter  sido  este  o  primeiro  a construir  uma  crítica  radical  ao  capitalismo.  Tanto  mais  é  importante  recorrer  a  Marx  porque,  como  Derrida sugere, perante o cenário capitalista de hoje10, só podemos ter duas atitudes (críticas): ou aceitamos o fatalismo do “fim da história de Fukuyama ou retomamos a Marx para uma crítica radical sobre estes fenómenos. Derrida,
no que diz respeito ao fukuyanismo, nega o fatalismo: This Marxist critique can still be fruitful if one knows how to adapt it to new conditions, whether is this a matter of new modes of production, of the appropriation of economic and techno‐scientific  powers and knowledge, of juridical formality in the discourse and the practices of national or international law, of new problems of citizenship and nationality (). E, no que diz respeito aos que se consideram herdeiros de Marx na crítica ao capitalismo,  adverte que estes espectrais o devem parar na crítica em si, ou seja, “criticar por criticar”, como dizemos cá em casa. Tal como Marx o fizera, é necessário avaar para além da crítica apresentando  novas alternativas  de organização  e da concepção  do social e do  mundo (novas utopias).  É preciso desconstruir o marxismo e voltar à utopia.

Herdar o espírito de Marx, neste caso, não seria necessariamente insistir no conteúdo da sua utopia social, o comunismo, mas sim no espírito tipicamente marxista de apresentar uma alternativa ao capitalismo. É importante diferenciar estes dois fenómenos espectrais de Marx.

Se calhar ficaria bem terminar com um trecho do próprio Marx: "Se tivermos escolhido  aquela posição de vida em  que  podemos,  acima  de  tudo,  trabalhar  para  a  humanidade,  nenhum  fardo  nos  pode  vergar,  porque  são sacrifícios para o benefício de todos; o sentiremos então nenhuma alegria mesquinha, limitada e egoísta, mas a felicidade  pertence a miles,  as  nossas  acções  permanecerão  silenciosas  mas  continuamente  a trabalhar  e sobre as nossas cinzas derramar‐seão  as lágrimas quentes de pessoas nobres". Talvez, o mais interessante sobre Marx, seja esta estória dele, quando fazia 19 anos. Ele escreveu  ao seu pai: "...durante  a minha doença  fiquei a conhecer  Hegel  de trás para frente,  juntamente  com a maior  parte  dos seus discípulos".  Aparte  deste  esfoo, Marx aprendia sozinho inglês e italiano, informa ele ao seu pai. Termina esta carta com um PS: "perdoa, querido pai, a caligrafia ilegível e o estilo descuidado.  São quase quatro horas. A vela se gastou e doemme os olhos".
Marx o mudou este estilo nocturno durante toda a sua vida.

No enterro do seu amigo Marx, Engels viria a dizer, quá entre as lágrimas: “Tal como Darwin descobriu a lei da natureza orgânica, Marx descobriu a lei do desenrolar da humanidade; Marx também descobriu a lei especial do movimento  que governa o modo de produção capitalista dos nossos dias e a sociedade burguesa que este modo (de  produção)  criou.  A descoberta  da mais‐valia  iluminou  o problema  subitamente  que  todas  as  investigações anteriores tinham tacteado no escuro".




NOTAS DE RODAPÉ
___________________________


  1. Para Ferreira o projecto (libertário socialista, sim “comunista) de Marx “faliu; aliás esta “conclusão já se entrevê no subtítulo do livro Porquê faliu o projecto liberrio de Marx? Se essa for a sua premissa, então por quê escrever sobre um projecto que o próprio Ferreira considera ter falido?
  2. O quê teria falhado em Marx, mais exactament na sua teoria, para poder considerá‐lo segundo Ferreira, como u do “grande opositore da liberdade individuais” Há  trê aspecto –  atribuído por    Ferreir à  teoria marxiana  que fizeram falir o projecto libertário: (i) a “ideologia marxista que oprime o sistema de valores, (ii) a teoria do PartidoEstad que, nas palavras de Ferreira, afunilou o sistema político dos países que adoptara o marxism como filosofi de Estad e (iii) o comunismo um sistem económic que, na óptic de Ferreira o criou espaço para o desenvolviment de iniciativa e liberdade individuais Estas três “falhas”  do marxism são desenvolvida por Ferreira com o apoio de leituras, de certa forma e propositadamente acríticas, do conceito de historicismo desenvolvido por Popper, da noção da dialética desenvolvida por Bernstein e do totalitarismo na visão de Arendt e outros. Ferreira chama estes tricos em o seu auxílio para “rever o efeito espectral de Marx hoje. E, a assim   fazer  próprio   Ferreira   entr n jog espectral   descrito   po Derrida.   Ferreira   no actualiza   e contextualiz (para o caso moçambicano as críticas sobre as consequência da teoria marxiana que se pretende
    ser, em parte, promessa messiânica (expressão de Derrida).
  3. Ferreir cham a este fenómen “totalitarismo tomand por empréstim o historicism denunciad por KarPopper do livro A Sociedade Aberta os seus Inimigos. Será? O “totalitarismo que Ferreira encontra em Marfundamenta‐s no que o autor agor em análise cham por “teori do PartidoEstado”  de Marx Ferreira no capítul Marx e Democraci (pp. 103108 começ por reconhece que Marx foi quem, mais do qu ningm, exigiu direito à igualdade o direito à liberdade inclusiv o direito de opinião, emancipã social  política dos cidadãos    ”   reconhecendo    que   estes   são   “traços   característicos    de   uma   sociedade    que    prima   pelo reconhecimento    pel afirmã do cidadão e consequentemente,   u Estad democrátic  d Direito (p.103); ginas depois, porém, o nosso autor escreve: Na sociedade sonhada por Marx, laar críticas ao Partido Comunista, exercer o direito à greve (o direito de exigir os próprios direitos) e exprimir o próprio pensamento o só era interdito, mas tamm era acompanhad de sérias repercussões penais, tais como a prisão, a perseguição,  exclusã socia até   pen d morte”  (p.105) Est aparent contrariedade   lev  noss auto  afirmar conclusivamente “Marx lutou contra os tiranos criando outros tiranos”.

    Assim, primeiro passo para totalitarismo na teoria marxiana, segundo Ferreira, foi o de negar as liberdadeindividuais aos cidadãos do futuro comunismo criando mecanismos para reprimir todas avozes que não fossereconhecidas como sendo “comunistas”. Entretanto, segundo Ferreira, o golpe final a caminho do totalitarismo é formão de um partido único homogéneo. Ferreira éaliás, informado nisto por autores como Pellicani Amendola, após ter‐se servido de Arendt como suporte. Ferreira declara: o instrumento fundamental e original da ditadur comunist é a presenç de um partid único”  (p.111) porque como o nosso  autor argument umas ginas antes, o partido é elevado ao planificador geral da vida onde a distinção entre a esfera privada e pública desaparece Onde, portanto Marx via o partido como uma forma de manifestaçã organizad d proletariado, Ferreir vê com uma das característica principai dum regim totalitário Ond Marx  vê  partid comunista com uma base para o proletariad toma o pode e tornar‐s a class dominant (n verdad Marx  e Engels escrevem  nO Manifesto pela sua forma, embora não pelo conteúdo, a luta do proletariad contra a burguesia assum o carácte de luta nacional”  [it. meu]. Desta  forma Marx vê o Partid Comunist como uma form de organização nacional, enquanto que o conteúdo da luta proletária é universal; daí o apelo aos proletários de todos o paíse par s unirem!) Ferreir vê e contrapartida,   com send o   objectivo   principa do partidos comunista anula o pode d povo a sociedad civil o cidadãos” tend com consequênci a tomad de decisões pertencer, na fase “socialista da construção do comunismo, ao partido único.

    Ferreira, na sua descrição sobre o totalitarismo, opera, de propósito, em dois planos sem necessariament queredistinguir um do outro. Por um lado no plano da teoria marxiana; por outro no plano do que ficou conhecido como


    o “socialism real”, este último que se consubstanci nas tentativas de praticar as teorias de Marx. Aqui o nossautor o só descreve as “evidências”  da União Soviética com Lenine e Estaline, como também nos faz sentir ncarne as atrocidades do fascismo italiano e do nazismo alemão. Justifica‐s assim o juízo que vimos Ferreira fazer antes: Marx tanto lutou contra tiranos, como criou (ou melhor fundamentou) outros.

    Ferreira ensaia aqui um plano muito peculiar da crítica filosófica: olhar a teoria pelos resultados ou seja: criticauma teoria através de factos que foram originado presumivelment por esta teoria ou ainda em nome destmesm teoria Separa ou o Marx dos Marxistas Separa ou não Marx dos efeito espectrai da sua teoriaFerreira optou (implicitamente?) por juntar, pelo menos partir do capítulo intitulado Consequências Imediatas (pp.119120 até   capítul  Violênci (pp 121130) Derrid parec te id po u caminh contrári ao declarar usando o método  de deconstrução que todos estes críticos de Marx estão fora do eixo do se tempo (ou o joint) Pens qu Ferreir abr aqu u camp d debat qu irá  transfigura  problem n debate intelectual moçambicano nomeadament o de reencontrar‐s com Marx, uma vez este já ter tido uma influência fundamentacionist no horizonte teórico da nossa sociedade.

    Em Moçambique, na história do ensino da filosofia, o marxismo já foi a única doutrina dominante. Muito pouco do conteúdo marxista ainda se trata hoje nos programas de ensino. Temos uma forma estranha de tratar elementoqu parece incómodo n noss auto-consciência   histórica esquecer o seja tratand apaga o vestígiomarxista recalcado n consciênci colectiv do moçambicanos sobretud da cada 7  8 d culo passado Tud meno confrontarnos dum form argumentativa co est passadopresent d noss auto-­‐ consciência Ferreir está co est livro a vasculha teimosament o qu tentamo recalcar E escolhe esta forma quase bruta, mas eficaz de nos fazer entrar no debate: olhando a teoria marxista sob o pretexto de criticar a (sua) prática, mesmo sob o risco de ser injusto ao Marx. Escolheu Marx para denunciaro totalitarismo penso. Este livro poderia bem se chamar, no seu subtítulo, porquê faliu o totalitarismo? ao invés deste que nos é dado e que nos referimos acima



    Só assim podemos compreender a crítica terceira de Ferreira neste livro: contra o comunismo como projecto sociaporque este, como sistema económic  diznos o autor  teria usurpado todo o espaço de desenvolvimento do indivíduo a favor do colectivo imagirio. Aliás, aqui também observamos a mesma estratégia: confrontar a teoria (melhor a utopi social do comunism com a sua prática De facto, podemo afirma sem rodeios  projecto comunismo faliuDeixemme dizer, antes, que o comunismo  nos olhos do nosso autor um sistema gerador de intolerância política, de totalitarism e, enfim, das diferentes facetas de “violência”  – é, em contrapartida uma utopia social de Marx juntament co Engels N capítul Proletário  Comunista d Manifest ambo tê  preocupaçã de manifestare o que separa os comunistas de outros partidos e intelectuais proletários. Escrevem: os comunistas particularizam‐s fac aos restante partido proletário apena (it. meu pel fact de que por u lado nas diversas lutas nacionais dos proletários salientam e fazem prevalecer os interesses comuns de todo o proletariado independentement da nacionalidad e pel fact de que ( representa sempr o interess do movimento com u tod na ria etapa d desenvolvimento    Portanto  comunismo   autocompreende‐se na perspectiv dos seu teorizadore Mar e Engels com u moviment (é important destaca est term em oposição a uma sociedade acabada) ultranacional portanto universal e continuadora  da tradição de luta entre as classes sociais.

    Com qu antevend o desvios”  feito e nom dest movimento,   mai tarde no paíse d chamad“socialism real”  do Lest e em algun africanos e tam tomand precauçõe de possívei criticas Mar Engels escrevem Aquilo que diferenci o comunism o (it. meu) é a aboliçã da propriedad de uma forma

    geral, mas a abolição da propriedad burguesa (it. meu)”. Marx e Engels chegam a ser ainda mais explícitos: Dmod nenhu queremo  fi  ( apropriaçã pessoa do produto () Queremo apena elimina naturez miseráve desta apropriação em que o operári só vive para multiplica o capital só vive enquant o
    interesse da classe dominante assim determinar”.

    No entanto temo de reconhece que sobr o comunism com um variant do totalitarismo junt ao se“irmão”  o fascismo muit s escreve depoi d Mar qu pel própri Marx Assim torna‐s d fact umgrande “aventura juntar todos os pedaços do que ele escreveu sobre esta doutrina comunista e fazê‐la aparecer ou passar como se ela fosse, de facto, uma teoria sistematizada Vagas ideias de Marx sobre o comunismo são-­‐ nos dada no debat aceso co insulto pel meio havid entr ele e Bakunine por u lado por outro os escritos “furiosos de Marx no panfleto Crítica ao Programa de Gotha. Com Bakunine as divergências rondaram em volta do interessant termo ditadur do proletariado Enquant Marx opinava qu uma ditadur da maioria era necessária para se poder eliminar por completo as sequelas do capitalismo (através, por exemplo, de medidas de socialização nacionalizaçã ou estatizaçã [conform os ângulos d propriedad privad sobre os meios de produção concentrados nas mãos de uma minoria de capitalistas exploradores), Bakunine era de opinião contrária: a fase da ditadura do proletariado o lhe parecia ser necessária; pelo contrário, era mesmo perigosa porque os “representantes”  do proletariado poderiam tornar‐se autoritários; e havia um perigo eminente para isso: a minoria que, em nome da maioria iria exercer a ditadura”, o iria querer mais entregar de volta o poder aos operários (ou aos outros partidos). Porque, imagino eu com Bakunine, a ditadura é doce demais para quem está do lado do sol e é amarga demais para quem pode estar a ver o sol aos quadradinhos.

    Mar fico furios co est desenvoltur d Bakunin (“u home desprovid d qualque conhecimenttrico que o percebe que quer que seja da revolução social”). Bakunine acabou sendo classificado por anarquista”  no anai d historiografi marxista”  ortodoxa  Crític a Program d Goth acab po ser também uma escrita contra Lassaille. É neste panfleto que Marx exe o famoso prinpio comunista: a cada usegund a sua capacidades  cad u segund a sua necessidades”.   Mar quas qu project par sociedade o prinpio geral que, comparativamente parece ser válido para o contexto familiar: fazemos as crianças participarem no trabalho segundo as suas capacidades, mas damos‐lhes tudo na base de necessidade de cada uma delas!

    Outras pistas sobre o comunismo de Marx (por exemplo em Ideologia Alemã) apontam ainda para a mesma noçãevolutiva e do movimento do comunismo: O comunismo o é para s um estado de coisas a ser estabelecidonem um ideal ao qual a realidade terá de se ajustar. Chamemos comunismo ao movimento real que abole o estado das coisas em cada época e fase. Enfim, é a atitude o pica em Marx segundo o qual “vamos  ver para onde
    isso vai que aqui queremos sublinhar.

    Assim, a suspeita que temos, é que a inclusão do capítulo “forte do Marxismo chamado Comunismo Científicono que veio a ser conhecid como doutrina marxista‐leninista foi visivelment a posterior, embora baseando-se em   frases   mais   emblemáticas   atribuídas    Marx.   Este   livro   do   Ferreira   é  uma   boa   incursã aos   novos desenvolvimento teórico sMarx incluind a crític da doutrin sobre  o comunismo No fund é uma s-­‐ crítica Mais  uma vez, Ferreir nos abre a port da noss autoconsciênci históric recalcada Entã não foi o comunismo (no mínimo o socialismo) um projecto da “geração da utopia e da chamada geração 8 de Mao eMoçambique? Então o abandonámos (ou fizeramnos abandonar?) este projecto social de mãos vazias? 
  4. O fantasma de Marx ainda paira sobre nós. Ferreira encarnou o efeito espectral do fantasma, neste livro. Convida-s outro espectro moçambicanos   qu junte o esqueletos   marxiano  o tire for d armário seassombrações.




1 comment:

Miller said...

Parabéns pelo post.

Avante.